quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Rei do Inverno

 

O rei do inverno Eu sei que já escrevi sobre a trilogia As Crônicas de Artur, mas como acabei de reler o primeiro, resolvi fazer mais algumas considerações, que ficaram de fora da outra vez, já que quando escrevi fazia tempo que eu tinha lido. É, eu sei que ficou meio confuso, mas é isso mesmo.

Neste primeiro, Derfel é um lanceiro a serviço de Artur, que por suas conquistas no campo de batalha acaba o livro como lorde. E, desde muito cedo, ganha a confiança de Artur. Não vou me aprofundar muito nele, porque já escrevi bastante sobre ele, mesmo ele sendo um dos meuns personagem preferidos. E digo isso levando em consideração não só este livro, mas todos os que já li (e olha que é um número considerável).

Gostaria de me dedicar um pouco a um dos melhores personagens que eu já vi (de novo! Não, não estou brincando, mas quando se trata de Bernard Cornwell, é difícil achar um personagem que não seja muito bem escrito). Me refiro a Guinevere, que, graças a Deus (ou melhor, aos deuses, principalmente Ísis) não tem nada a ver com a Guinevere das Brumas, que eu detesto ( a personagem, não o livro). Mesmo. Esta é sarcástica, pagã, e absurdamente ambiciosa. Talvez a única coisa que ela tenha em comum com a Guinevere das Brumas é que ela é tão manipuladora quanto. E é dissimulada também. Ela cultua Ísis, a deusa egípcia, e por causa disso, é ultra infiel a Artur, apesar da fidelidade deste, sendo que seu caso mais notório é com Lancelot. Até aí nada novo, mas ela, apesar de se comportar quase como uma freira (que tenho certeza que ela tomaria como insulto dos mais baixos) na frente de Artur, que acredita piamente em sua fidelidade. Ao contrário de sua xará, ela despreza os cristãos e trata Sansum como algo pior que um verme. E adoro isso nela. Não me entendam mal, sou católica (apesar de não praticante e já ter deixado minhas opiniões sobre a Igreja bem claras) e não quero ofender ninguém, mas é que Sansum merece todo desaforo que lhe for direcionado.

E falando nele, também conhecido como Lorde Camundongo, este sim é um fanático de marca maior, mas é absolutamente ganancioso e escorregadio. Sabe fazer muito bem o jogo para que tenha sempre mais vantagem, fingindo uma humildade que ele não tem. Ele é bajulador e sua ambição o levará muito longe, mas por enquanto ele está meio isolado. Mas já planta as sementes que irá colher. Ele é o bispo do mosteiro onde Derfel vive em sua velhice, cargo que consegue por pura cara de pau, pois ele não tem vergonha nenhuma de pedir sempre mais. Detesta e despreza Derfel (e só por isso merece meu desprezo também) e é um hipócrita, pedófilo e egoísta que guarda para si tudo que o rei Brochvael, marido de Igraine (não é a mãe de Artur. Já falo dela) manda para o mosteiro (de ouro até lenha para lareira e alimentos). Ele me enoja, e consegue isso porque Bernard Cornwell o escreve tão bem.

Há ainda outra Igraine, rainha de Powys depois do tempo de Artur. Derfel escreve a história de Artur a pedido dela. E é engraçado ver as tentativas de Sansum de ler o manuscrito, que tanto Derfel quanto Igraine dizem ser uma tradução do Evangelho para o saxão, sendo que, se não bastasse tudo que eu falei dele acima, é ignorante e não sabe ler. Igraine é inteligente e romântica, e Derfel tem certeza que ela irá mudar tudo que ele escreve de acordo com seu gosto. Está desesperada para engravidar e para isso usa as mais diversas simpatias, sendo que a mais esquisita é usar um paninho com fezes de recém-nascido em volta do pescoço (eca!).

Falta ainda falar de dois personagens importantes: Galahad e Sagramor. O primeiro é irmão de Lancelot e melhor amigo de Derfel, apesar de ser cristão. Ele é um príncipe destituído de trono, já que sua terra é tomada pelos francos, porque seu pai achava mais importante povoar o país com poetas. É um guerreiro bravo e competente, e é culto, já que cresceu na cidade dos poetas. E Sagramor é um númida lacônico, mas um temível guerreiro (conhecido como demônio negro), que não fala muito, mas quando o faz, suas palavras ressoam. É um dos mais importantes guerreiros de Artur.

Finalmente, não esqueci de Lancelot. É que ele não aparece muito neste livro, tendo maior destaque nos livros seguintes, mas já dá pra perceber que ele não corresponde em nada, a não ser talvez pela beleza, ao Lancelot que todos conhecemos. Aqui ele não passa de um almofadinha que paga para que os bardos cantem suas vitórias. Mas deixo para falar mais dele quando comentar os outros (tenho certeza que depois de reler, vou ter mais a acrescentar).

Definitivamente recomendo esse livro para os fãs de Artur, apesar das surpresas que o livro guarda, fugindo do tradicional. E também para os fãs de romances históricos em geral, pois apesar de a lenda de Artur levantar muitas dúvidas sobre sua existência e dar lugar para o fantástico, Bernard Cornwell descreve com precisão os costumes e crenças da época, de forma que a dúvida continua no ar. E só umja correção: no post anterior, eu escrevi o nome de Cenwyn errado. A grafia certa é esta, mas é que esses nomes de origme bretã são difíceis demais (não consigo nem ler direito).

Nota cultural

O culto de Ísis, deusa egípcia modelo da esposa e mãe ideais (como Hera), se estendeu do Egito para todo o mundo greco-romano, chegando à Inglaterra na época da dominação romana. Ela era deusa protetora da natureza e da magia, e era amiga dos desclassificados, como escravos e artesãos. E também a deusa da maternidade e da fertilidade. É a mãe de Horus e a primeira filha de Geb, o deus da Terra, e Nut, a deusa do Firmamento, era também conhecida como a deusa da simplicidade e deusa das crianças. Ela era ainda irmã e esposa de Osíris, o deus do submundo. (Fonte:Ísis)

Se você gostou de O Rei do Inverno, pode gostar também de:

  • As brumas de Avalon – Marion Zimmer Bradley,
  • As crônicas saxônicas – Bernard Cornwell,
  • A demanda do Graal – Bernard Cornwell,
  • As colinas ocas – Mary Stewart

Nenhum comentário: