sexta-feira, 18 de junho de 2010

Eu e minha dona – parte 3

 

Sophia Resolvi me manifestar. Como é que eu, rainha Sophia, majestade da casa, não tenho espaço? Aqueles seres inferiores, chamados Honey e Murruga, só puderam escrever porque eu deixei. Afinal, uma vez majestade, sempre majestade. E que história é essa de “Eu e minha dona”? Será que a Fernanda não sabe que são os gatos que dominam o mundo, e que os humanos são simplesmente nossos servos, e se somos amigos, é porque nós queremos? O título certo deveria ser “Eu e minha humana”.

Como já disse, sou rainha e espero ser reverenciada todos os dias. Até que as minhas humanas fazem seu dever direitinho. Me prestam reverências todos os dias. Sempre me dizem que sou linda,e, quanto mais me dizem isso, mais eu faço pose. E eu adoro tirar fotos. Adoro ser adulada.

Já os outros é que deixam a desejar. Veja o caso daquele ser inferior Murruga, por exemplo. Eu durmo sempre que quero com a minha humana Fernanda (claro que na verdade, eu é que permito que ela durma comigo), numa cama grandona. Mesmo assim, ela às vezes insiste em me empurrar para o lado, aí eu dou o troco e arranho os pés dela. Afinal, é ela que tem que me dar o espaço… Enfim, como eu ia dizendo (aliás, sou rainha e eu posso fazer digressões), aquele ser inferior tem a desfaçatez de querer subir na cama e partilhar o espaço! E a Fernanda ainda justifica o que ele faz dizendo que ele tem medo de fogos de artifício! Por que ele não faz como eu e vai achar um lugar para se esconder? O meu preferido é dentro do armário da Fernanda.

Mas isso nem é o pior. Imaginem só que, no começo do ano passado a Fernanda achou um gato na praia e inventou de trazer para casa. Era um pirralho, que se dizia siamês, mas na verdade era mesmo é falsificado, que a Fernanda chamou de Blue. Pois não é que o tal pirralho veio tomar meu lugar na cama? A Fernanda vivia dizendo que ele era amigo, e que tinha espaço suficiente na cama para nós dois, mas, como já disse, sou rainha, e não posso simplesmente dividir meu leito real com qualquer um. Mas tenho que admitir: me senti mal quando essa bola de pêlos sumiu. Eu sei que a Fernanda ainda sente falta dele, afinal, eu durmo com ela (ou melhor, ela dorme comigo).

A tal da Honey eu suporto. Afinal, ela até que é uma súdita decente. Não me expulsa de lugar nenhum, e nem chega muito perto. Agora, tem um tal de Tito Pullo que está me dando nos nervos. Imaginem só que ele agora deu para querer me chamar para brincar! Como ele ousa? Eu só admitia brincar com uma semelhante: a Sara, que infelizmente morreu no ano passado. Afinal, ela me fazia companhia nos tempos que eu ainda morava no pet da Fernanda.

Ah é! esqueci de mencionar como vim instalar meu reino aqui (quer dizer, esqueci não. Já disse que sou rainha e posso fazer as digressões que quiser). Mas estou de bom humor, então vou partilhar essa história com vocês. Um belo dia, um carinha me deixou no pet. Eu estava com um machucado na bochecha, que infeccionou. Como a Fernanda já tinha um dono em vista para mim (olha só que coisa! Ela queria me dar!). Bem ela me mostrou para o pretenso dono, e ele disse que ficaria comigo, mas perguntou se a Fernanda podia cuidar de mim por uns quinze dias. A Fernanda disse que sim e até tratou da minha ferida na bochecha. Os quinze dias passaram e nada de virem me buscar. No fim, a Fernanda me castrou, e resolveu ficar comigo. E foi bom mesmo. Afinal, vejam só, o cara ia me dar o nome de Laurinha. Isso lá é nome de rainha? Eu era só uma filhotinha na época, com uns três meses, mas desde cedo fui estabelecendo meu reino.

E tenho que contar um incidente infeliz. Quando eu ainda morava no pet, eu fui atropelada e quebrei a bacia em três lugares e luxei o fêmur dos dois lados. Doeu muito, mas minha humana Fernanda cumpriu fielmente seu papel de súdita e médica real e cuidou de mim. Ainda bem que não precisei de cirurgia.

Depois que o pet fechou, mudei de palácio. E gosto muito daqui. Fico mais na parte de cima da casa, onde ficam meus aposentos. E fico muito brava quando um dos outros gatos aparecem por aqui. Só eu posso andar por aqui. Os outros tem que pedir permissão, o que nem sempre eles fazem. Aí tenho que perder a classe e faço fu. Rosno mesmo. Não gosto de ser desafiada.

Agora vou terminar. Já dei o meu pronunciamento. Pensam que é fácil comandar um reino?

Nenhum comentário: